Uma nuvem carregada de incertezas paira sobre o Villa Park desde o pedido de demissão de Martin O'Neill, a menos de uma semana do início da Premier League. Duas semanas se passaram e a decisão do proprietário do Aston Villa, Randy Lerner, de protelar o anúncio do novo técnico ameaça arruinar a temporada do clube.
O técnico interino, Kevin MacDonald, comandou a equipe na vitória de 3-0 sobre o West Ham United, na partida de estreia da Premier League, e no empate em 1-1 diante do Rapid Wien, na Áustria, pela fase de playoffs da Europa League. Os dois resultados e a preferência em escalar jogadores formados nas categorias de base transformaram o escocês no favorito para substituir O'Neill. Entretanto, qualquer expectativa de ser efetivado no cargo ruiu no jogo seguinte, em St. James' Park. Após John Carew desperdiçar um pênalti, o time perdeu o equilíbrio emocional e sofreu uma histórica goleada de 6-0 para o Newcastle United.
No futebol inglês, nenhum cargo possui uma simbologia tão rica quanto o do manager. A posição é considerada a mais importante para o funcionamento do clube, já que define toda e qualquer política de futebol. O único limite é o orçamento para transferências, definido pelo proprietário. Por tudo isso, é compreensível que Randy Lerner relute em fazer uma escolha apressada. Ainda assim, é preciso chegar num ponto de equilíbrio, para que planejamento estudado não se confunda com morosidade.
A atuação apática em St. James' Park demonstra que o futuro técnico terá um trabalho árduo para manter o clube entre os seis primeiros da Premier League, ainda mais se o elenco não for reforçado. No período em que dirigiu o Aston Villa, O'Neill sempre preferiu escalar a equipe com base em um grupo de 15 atletas. Na última temporada, Brad Friedel, Richard Dunne, Stiliyan Petrov, James Milner e Ashley Young participaram de 35 partidas ou mais. Quando um jogador importante sofre uma lesão séria, o impacto é imediatamente sentido. Um bom exemplo é a forte queda na segunda metade da campanha 2008/09, que coincidiu com a série lesão no joelho sofrida por Martin Laursen e resultou na aposentadoria precoce do zagueiro dinamarquês.
Nenhum clube sério negocia sem ter um técnico no comando da política de futebol. Sem o anúncio de um manager, o Aston Villa está com as mãos atadas e sem rumo no mercado de transferências, que se encerra já na próxima terça-feira, 31 de agosto. O único acordo realizado no verão, a saída de James Milner para o Manchester City em troca de Stephen Ireland e £ 18 milhões, só aconteceu por ter sido uma herança de O'Neill. Por isso, a pressão é para que Lerner defina o mais rapidamente possível o novo homem.
Se era exagerado o otimismo pós-vitória sobre o West Ham United, o mesmo se aplica aos clamores de terra arrasada depois da goleada sofrida em Newcastle. Ainda assim, a derrota serve como um alerta para as fragilidades do elenco do Aston Villa.
É normal que torcedores se excitem ao ver jovens formados pelo clube brilharem em campo, porém é importante ter calma. Por mais salutar que seja dar oportunidade a garotos, a partida de St. James' Park mostra que eles não estão preparados para maiores responsabilidades. O zagueiro Ciaran Clark foi completamente dominado por Andy Carroll, enquanto Marc Albrighton, excelente diante dos Hammers, esteve anônimo em campo.
"Pode ter sido um pouco exagerado escalar dois garotos que tiveram muito bom desempenho (na estreia)... talvez eu tenha cometido um pequeno erro na escalação", reconheceu o interino Kevin MacDonald na entrevista pós-jogo. Ao readquirirem a forma física, James Collins e Gabby Agbonlahor devem retornar ao time titular, mas a inconsistência dos jovens ilustra a falta de opções no elenco do Aston Villa.
Os indícios de que não há dinheiro disponível para reforçar o elenco são preocupantes. O braço direito de Lerner, Charles Krulak, veio a público esclarecer que a folha salarial corresponde a 85% das receitas do clube e que, por essa razão, O'Neill não receberia fundos para buscar novos atletas. Será que a posição será a mesma para o novo técnico?
A percepção de que o Aston Villa fez um excelente negócio ao trocar Milner por Ireland e £ 18 milhões só se confirma se o clube colocar o dinheiro no orçamento de transferências. Com esse valor, um técnico astuto poderia até trazer quatro jogadores capazes de solucionar as carências do elenco.
É chegado o momento de Lerner tomar decisões: quem será o novo técnico e, principalmente, quanto ele poderá investir.
No momento, os indicativos sinalizam que o grupo de jogadores não será alterado até janeiro. Má notícia para a torcida, que pode ver a temporada do clube desaparecer em meio à inércia.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
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