quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A lição de Berna

O título da coluna de Harry Redknapp no The Sun da quinta-feira passada, dia seguinte à vitória da Inglaterra de Capello sobre a Hungria, era "Táticas não vencem partidas". Para ser justo ao técnico do Tottenham Hotspur, a manchete foi escrita por um dos editores do jornal, porém o espírito do texto era de que o futebol "é 10% baseado em esquemas táticos e 90% nos jogadores".

A história do futebol é repleta de casos em que a estrutura tática de uma equipe é central para o sucesso nos gramados. A Grécia, dirigida por Otto Rehhagel, conquistou a Euro 2004 ao explorar lapsos defensivos dos adversários, enquanto garantia risco mínimo em sua própria retaguarda. Na própria Inglaterra, Brian Clough construiu duas equipes vencedoras (Derby County e Nottingham Forest) sem contar com estrelas do mesmo nível dos rivais. O trunfo do técnico era a disciplina dentro de campo. Ainda assim, Redknapp, como muitos outros, tem uma visão ingênua e simplista do esporte.

A escalação do Tottenham Hotspur diante do Young Boys sinalizava uma equipe ofensiva, preparada para dominar a partida desde o apito inicial do árbitro Frank De Bleeckere. Ainda assim, ao optar pelo 4-4-2, no confronto de ida e fora de casa, Redknapp colocou o próprio time em situação de perigo.

O ataque era formado por Jermain Defoe, em péssimo momento, e Roman Pavlyuchenko. Ainda que sejam dois atletas com retrospecto de gols, nenhum deles é eficiente na pressão da saída de bola adversária. No meio-campo, dois jogadores leves: Luka Modrić e Giovani dos Santos. Não foi por acaso que o Young Boys exerceu controle absoluto nos primeiros 30 minutos, quando então Redknapp decidiu introduzir Tom Huddlestone para reforçar a proteção aos zagueiros.

"Nós os assistimos no sábado e eles estiveram mal", disse o técnico dos Spurs para justificar a escalação equivocada. Apesar do esforço em esconder, fica claro que Redknapp subestimou o adversário e acreditou que a superioridade técnica dos Spurs seria suficiente para uma vitória tranquila. Para ter sucesso na Champions League, é preciso compreender a insuficiência do trivial 4-4-2. Não por acaso, Sir Alex Ferguson só utiliza o esquema para enfrentar as equipes da metade inferior da Premier League, mesmo que tenha atacantes superiores e mais participativos do que Defoe e Pavlyuchenko.

A derrota na Suíça foi inesperada, mas o Young Boys mostrou que a eliminação do Fenerbahçe não foi fruto de um golpe de sorte. O fato positivo para a torcida do Tottenham Hotspur é que a reação evitou um desastre e que a lição tática deve trazer benefícios no futuro, caso o time avance até a fase de grupos. Se tivesse conquistado uma vitória fácil, Harry Redknapp teria sido aplaudido e possivelmente estaria encorajado a repetir a estratégia contra equipes de maior poderio.

Até efetivar a contratação de um atacante capaz de atuar sozinho na frente, Redknapp faria bem ao escolher o 4-4-1-1 para as competições europeias. Com a adequada proteção ao setor defensivo e um jogador dinâmico na ligação entre meio-campo e ataque, os Spurs evitariam novos traumas.

Se aliar os reforços adequados à lição de Berna, o Tottenham Hotspur tem potencial para sonhar até com uma vaga nas oitavas de final da Champions League. Porque como José Mourinho e Rafa Benítez ensinaram, o segredo do sucesso no futebol de alto nível é baseado na organização tática.

Nenhum comentário: